Não fiques imóvel
à beira do caminho.
Não congeles o júbilo
não ames sem vontade.
Não te salves agora
nem nunca.
Não te salves.
Não te enchas de calma.
Não te afastes do
mundo
sózinho um canto
tranquilo.
Não deixe cair as
pálpebras
pesadas como juízos.
Não fiques sem lábios
não durmas sem sonhos.
Não penses sem sangue,
não te julgues sem
tempo.
Mas se, apesar de tudo
não poderes evitá-lo
e congelas o júbilo
e amas sem vontade
e te salvas agora
e te enches de calma
e te afastas do mundo
sózinho num canto
tranqüilo
e deixas cair as tuas
pálpebras
pesadas como juízos
e secas os teus lábios
e dormes sem sonhos
e pensas sem sangue
e te julgas sem tempo
e ficas imóvel
à beira do caminho
…e te salvas…
Então…
…não fiques comigo.
in “Poesia Habana”. 1983.
Mario Benedetti Poeta uruguaio radicado na Espanha.